sábado, 5 de março de 2011

CAMERON BROWN VENCE PELA DÉCIMA VEZ O IRONMAN DA NOVA ZELÂNDIA

Aconteceu hoje a primeira prova de Ironman do ano, o Kellogg’s Nutri-Grain Ironman New Zealand, em Taupo – Nova Zelândia, prova marcada por muita chuva, especialmente durante o ciclismo e por feitos históricos dos vencedores.

Os campeões da disputa de 3,8km de natação, 180km de ciclismo e 42km corrida foram os atletas locais, Cameron Brown e Samantha Warriner. Cameron conseguiu um feito inédito: foi o primeiro atleta a ganhar por 10 vezes o mesmo Ironman! Com a melhor corrida e o segundo melhor pedal do dia, mesmo longe de seu recorde, Cameron conseguiu superar o jovem talento, seu compatriota Terenzo Bozzone. Bozzone era apontado como favorito para se tornar o novo rei da Nova Zelândia, mas Brown, aos 39 anos, mostrou que ainda é o homem a ser batido em seu país.

        Cameron Brown continua imbatível na Nova Zelândia - Foto: wagner Araújo / MundoTRI.com.br

Brown não fez uma boa natação (50:21), mas com o segundo melhor pedal (4:43:04) conseguiu chegar na segunda transição a apenas 2:45 atrás de Scott Curry (melhor pedal do dia: 4:39:59). fechando a maratona com 2:52:09, Brown facilmente alcançou Curry, abrindo uma margem confortável sobre Terenzo (mais de 10 minutos), que terminou pelo segundo ano consecutivo a uma posição da vitória, exatamente atrás de Cameron Brown.

                             Petr Vabrousek completou seu 100º Ironman! - Foto: Ironman.com  

Mas os fatos históricos não pararam por aí. O tcheco Petr Vabrousek completou hoje seu 100º Ironman, uma marca impressionante para um atleta de 38 anos de idade. A sua primeira prova de Ironman foi o Ironman Austrália, em 1999.

Na prova feminina, outro grande feito da vencedora, a neozelandesa Samantha Warriner, que foi operada do coração há apenas alguns meses e já venceu seu primeiro Ironman. A disputa entre as mulheres foi apertada, com Warriner vencendo com 9:28:24; seguida da campeã mundial de Ironman, Mirinda Carfrae, com 9:31:33; apenas 20 segundos à frente da heptacampeã da prova, Joanna Lawn. Apesar de ter feito a melhor corrida entre as mulheres e a terceiro melhor maratona geral (3:01:06), Carfrae não conseguiu tirar a vantagem de mais de 21 minutos que Warriner construiu na bike, graças a dois pneus furados. No km35 da maratona, a campeã mundial alcançou Lawn para garantir a segunda colocação.

Samantha Warriner ainda terminou na 10ª colocação geral entre os profissionais, feito cada vez mais comum entre as atletas de ponta. A atleta, que já venceu 7 Copas do Mundo de Triathlon Olímpico da ITU (International Triathlon Union) e dois Mundiais de Aquathlon, além de ter disputado as Olimpíadas de Pequim 2008 e de Athenas 2004; mostrou ser uma das atletas mais completas em todas as distâncias na história do Triathlon mundial, pois ela também já venceu provas de Ironman 70.3.

              Samantha Warriner já brilhava nas provas da ITU - Foto: Triathlon.org - Simon Grimmett

Apesar do segundo lugar, a prova foi importante para Mirinda Carfrae validar sua vaga para o mundial de Ironman em 2011. Segundo as regras da WTC (empresa que organiza o circuito Ironman), os vencedores em Kona precisam terminar um ironman em 2011 para poderem validar sua vaga no mundial.

A prova também teve como destaque o amador Luke Harrrison, de 34 anos, que foi o 6º geral, com uma maratona de 2:55:56.

Resultados – Kellogg’s Nutri-Grain Ironman New Zealand

Taupo – Nova Zelândia – 05 de março de 2011

3,8km natação / 180km ciclismo / 42km corrida

Masculino

Pos. Atleta           País       Natação      Bike            Corrida      Total

1 Camron Brown NZL      00:50:21     04:43:04     02:52:09     08:31:07


2 Terenzo Bozzone NZL   00:47:14     04:51:36     02:57:52     08:41:54


3 Mathias Hecht SUI         00:47:19     04:48:22     03:04:19     08:45:36


4 Keegan Williams NZL     00:50:25     04:48:37     03:05:27     08:49:34


5 Scott Curry CAN            00:50:30     04:39:59     03:14:21     08:50:44


6 Petr Vabrousek CZE       00:53:51     04:55:51     03:02:59      08:58:30


7 Tuukka Miettinen FIN      00:55:44     04:54:28     03:16:57     09:12:16


8 Gavin Scott AUS             00:49:55     05:07:11     03:12:49      09:15:10


9 Hiroyuki Nishiuchi JPN     00:47:17     05:24:57     03:07:06     09:25:39


10 James Bowstead NZL     00:52:37     04:53:00     03:48:35     09:39:38

Feminino

Pos. Atleta              País    Natação     Bike           Corrida       Total

1 Samantha warriner NZL 00:50:30    05:10:39     03:20:52     09:28:24


2 Mirinda Carfrae AUS    00:52:43     05:31:24     03:01:06     09:31:33


3 Joanna Lawn NAZL      00:52:43     05:22:10     03:10:54     09:31:53


4 Kate Bevilaqua AUS     00:58:28     05:11:55     03:23:55     09:40:01


5 Belinda Harper NZL     00:52:47     05:18:11      03:22:44     09:40:33

sexta-feira, 4 de março de 2011

ONDE INVESTIR SEU DINHEIRO NO TRIATHLON

Todos os dias somos bombardeados com novos produtos e serviços, muitos deles com preços exorbitantes, com a promessa de melhoria da aerodinâmica e, conseqüentemente, do desempenho na bike. Mas, em que vale a pena investir?
Para responder a essa questão o Cycling News publicou uma excelente reportagem, que comentamos aqui em primeira mão. Quanto tempo, quanto custo e se vale a pena são algumas das perguntas que tentaremos responder. Reunimos também dados da revista Triathlete de abril de 2008.

A equipe do Cycling News passou um dia com o engenheiro da Specialized Mark Cote, fazendo testes em pistas e em um túnel de vento com um atleta profissional. Os testes foram todos baseados em séries de 16km e 1km, com velocidade constante de 40km/h. Os dados possuem uma margem de erro de apenas 2%, em relação ao total da potência mensurada.

A primeira comparação foi entre uma bicicleta de ciclismo – uma Specialized Tarmac SL2 com rodas HED Bastogne, e uma bike completa de contra-relógio – uma Specialized Transition com rodas HED3 Trispoke e um capacete aero Specialized TT3. As diferenças são impressionantes.

Os testes mostraram que a configuração para contra-relógio poupava entre 60 e 70 watts, rodando a 40km/h. Enquanto o equipamento de ciclismo exigia uma potência entre 280-290 watts para manter essa velocidade, o equipamento aero exigia apenas 220 watts, uma diferença de mais de 20%. Em termos de tempo, a diferença perfazia um total de 9 segundos a cada quilômetro, ou 2’14” a cada 16 quilômetros. Nos 180km do Ironman a diferença é de 25 minutos!

Você poderia usar essa diferença para melhorar seu tempo no ciclismo ou manter seu tempo e sair para a corrida muito mais inteiro. Mas o que causou tanta diferença? A bike, as rodas ou o capacete?

Os testes mostraram que andando na posição aero, com aerobar, você economiza em torno de 30 watts se estiver a 40km/h. Já uma bicicleta específica para contra-relógio vai poupar-lhe 20 watts aos mesmos 40km/h. Um capacete aerodinâmico gera uma economia de 9 watts a 40km/h, enquanto um par de rodas aerodinâmicas economizam 10 watts.

Obviamente, um capacete é muito mais barato do que uma bicicleta de contra-relógio. Dessa forma, a comparação deve se dar pelo custo do watt, ou seja, quanto custa cada watt economizado. A tabela abaixo mostra essa comparação.
                           Item Faixa de Custo (R$)* R$/watt economizado a 40km/h


Aerobar 300-2.500                                                                 10-83


Capacete aerodinâmico 250-1.200                                          28-133


Bike de contra-relógio 4.000-25.000                                       200-1250


Rodas aerodinâmicas 1.500-15.000                                         150-1500

                                   * Valores aproximados, sujeitos a variações.

Cabe a você decidir o que vale mais a pena , mas algumas considerações são válidas.

Primeiro, alguns itens menos importantes, também fazem diferença. O artigo supramencionado da revista Triathlete mostra que o melhor custo-benefício é investir em roupas que não balancem e aumentem seu arrasto. Pneus também são pontos importantes a um custo relativamente baixo. Esses itens não foram considerados no teste mostrado, pois foram tomados com pressuposto, ou seja: esqueça uma bike aero se você sequer usa roupas e pneus adequados!

A análise da revista mostra que o capacete aerodinâmico é o terceiro melhor custo benefício. Esse parece ser um item a ser considerado em suas compras futuras, ao contrário de itens como rolamentos de cerâmica, pedais de titânio e outros itens muito caros. Estes só devem ser considerados quando os pontos principais forem atendidos.

Segundo, você pode comprar ganhos de velocidade, mas nada disso adianta se não treinar direito e não tiver um bom treinador. Esses, portanto, devem ser investimentos prioritários.

quinta-feira, 3 de março de 2011

RETENÇÃO DE LÍQUIDO

Conheça esse problema que atinge as mulheres principalmente no ciclo pré-menstrual


Por Maurício Belfante

Grande problema feminino, a retenção de líquido pode acontecer todos os meses durante o ciclo menstrual ou na gravidez. Mas o que é realmente é esse mal? A retenção hídrica é o acúmulo anormal de água e sódio, que acontece devido a alterações hormonais.

Porém, existem outros fatores que podem gerar esse distúrbio, como grande ingestão de sal, o sedentarismo e o uso de roupas muito apertadas que bloqueiam os linfáticos, dificultando a drenagem natural do organismo.

Há grande variedade de alimentos que podem culminar em uma retenção de líquido, por exemplo: alimentos mais industrializados, como os salgadinhos, enlatados, conservas, carne seca, bacalhau, temperos prontos e shoyu, que existem em sua composição sódio em demasiado.

"O sódio faz o rim reter água com o intuito de diluir sua concentração e alcançar a forma adequada para o organismo. Por conta dessa retenção hídrica, ocorre inchaço e aumento de peso”, explica Carla Yamashita, nutricionista do Fleury Medicina e Saúde, salientando um dos maiores efeitos da retenção hídrica.

A solução vem da água


São comuns dicas populares afirmando que a ingestão de água durante a retenção de líquido é prejudicial, porém, é totalmente ilusório, já que a água é o principal combatente deste problema.

“Muitas pessoas pensam que devem deixar de beber água para melhorar a retenção de líquidos, mas é justamente o contrário, tem é que beber bastante água para ela diluir o sal do corpo e ajudar os rins a eliminar os excessos”, informa Liliane Oppermann, nutróloga e médica ortomolecular.

Contudo, não é recomendável todo tipo de líquido, já que café, chá preto e bebidas à base de cola são produtos com grande quantidade de sódio. O líquido mais recomendável é a água, que deve ser ingerida, pelo menos, dois litros dela por dia.

Mesmo a água sendo o principal meio para acabar com a retenção hídrica, os alimentos também podem ser uma boa fonte de conseguir prevenir esse distúrbio. Nutrientes como o cálcio (presentes em leites e derivados), magnésio (castanhas, nozes, feijão, lentilha, soja, grãos integrais, folhosos verdes escuros, frutos do mar) e potássio (pode ser encontrado em verduras, legumes, saladas e frutas cruas), ajudam a balancear o sódio no organismo.

Corrida contra a retenção de líquido


A corrida e a caminhada também são um dos meios para ajudar no combate contra a retenção hídrica. Com a transpiração, o corpo consegue perder mais água, o que é benéfico na luta contra o distúrbio.

“Além de perder bastante água com a corrida, os exercícios aeróbios fazem coração bombear mais sangue e com isso estimular os linfáticos, evitando assim os danos provenientes dessa situação”, explica Liliane, que também indica a drenagem linfática.

Dicas


Confira as dicas da nutricionista Carla Yamashita para quem quer evitar ou se tratar da retenção de líquidos.

• Reduza o consumo de sal. Evite adicioná-lo na comida servida à mesa.

• Reduza o consumo de frios e embutidos (por exemplo, linguiça, salsicha, presunto cru, mortadela). Mesmo as versões com menos gordura como peru e chester, apresentam elevado teor de sódio.

• Cuidados com temperos prontos (caldos concentrados, shoyu), também são ricos em sódio.

• Evite o consumo excessivo de refrigerantes

• Inclua na dieta chás de ervas, gengibre, canela, cadamomo. Eles ajudam a equilibrar o líquido no organismo.

• Sucos de frutas cítricas, como limão e laranja, são ricos em potássio, e podem ajudar, contanto que não haja contra-indicação, como por exemplo, problemas renais.

• Para diminuir a retenção de líquidos, habitue-se a ingerir alimentos como frutas, verduras e legumes (melancia, morango, agrião, etc);

• Se não há restrição médica, beba bastante água. Além de ajudar a diminuir a retenção hídrica também auxilia no funcionamento intestinal.

quarta-feira, 2 de março de 2011

Nutrição para recuperação de atletas e o hormônio do crescimento – parte 2

Na primeira parte deste artigo, o técnico da ironguides Alun Woody discutiu como sua alimentação pode influenciar sua recuperação e desempenho nos treinos de triathlon. Agora ele mostra como aumentar a produção de HGH combinando a alimentação e os exercícios corretos.


Sumário:

1. Sprints e tiros


2. Musculação


3. Regras importantes


4. O papel da alimentação

O corpo também produz HGH em resposta a atividades anaeróbicas alta intensidade, como sprint e tiros curtos e musculação. Para gerar a resposta hormonal adequada, essas atividades precisam ser executadas perto da intensidade máxima do atleta, onde se produz muito ácido lático. Vamos olhar para esse processo mais de perto para ver como estimular a produção natural de HGH do seu corpo e como a alimentação também desempenha um papel fundamental aqui.

Um sprint em intensidade máxima de até 40 segundos recrutará um grande volume de fibras musculares, geando uma grande acumulação de ácido lático nos músculos. O resultado é um ótimo treino, pois trabalhamos com muitas fibras musculares, além de impulsionar a produção de hormônios que atuarão na recuperação do exercício. É fácil saber se você está fazendo esse tipo de exercício corretamente: basta ver se está fazendo muitas caretas nos últimos 10 segundos dos intervalos. Outro indicação é que você sentirá um sono repentino entre 60 e 90 minutos após esse tipo de exercício, á medida que os níveis de HGH sobem.

                                                                                 Treinos na pista podem ajudar

Treinos como esses trazem também riscos inerentes, assim a atividade escolhida deve sempre considerar o histórico esportivo e de lesões do atleta. Por exemplo, se você possui lesões crônicas no Calcanhar de Aquiles, não faça os sprints na pista, mas na bike ou na piscina.

Além de aumentar a liberação de HGH, a musculação gera vários benefícios para atletas de alta resistência no que se refere ao desenvolvimento da força muscular. Contudo, vários triatetas acabam perdendo esses benefícios por passar tempo demais na academia. Para ter mais liberação de HGH e ganhos de força da musculação, nós precisamos realizar exercícios com cargas pesadas em movimentos que recrutem grandes grupos musculares e os músculos essenciais (abdominais, dorsais e glúteos) .


                            A musculação bem feita pode trazer diversos benefícios aos triatletas

Exemplos desses exercícios são:

> agachamentos

> levantamento terra (deadlift)

> elevações em barra

Há algumas regras de ouro que devem ser seguidas na musculação e nos sprints para conseguir todos os benefícios do treinamento. É importante saber que não vamos além da tolerância ao lactato, nós simplesmente produzimos uma acumulação de lactato nos músculos. O jeito correto de fazer isso é com intervalos em intensidade, mas curtos, e com grande tempo de recuperação entre os intervalos. Dessa forma, o corpo estará recuperado para a próxima série de pesos ou para o próximo sprint. Alguns exemplos de treinos que se mostraram mais efetivos:

> Sprint: 6 a 8 vezes de 40 segundos em intensidade máxima, com 3 minutos de recuperação.

> Musculação: 5 séries de 5 levantamentos no peso mais pesado que o atleta consegue mantendo a postura correta.

A duração total do treino precisa ser curta, no máximo 40 minutos após o início do trabalho de intensidade. Se fizermos mais do que isso acabamos sobrecarregando nosso corpo, o que gera a produção de cortisol, hormônio que inibe o HGH que estamos procurando. Na musculação, eu sugiro um máximo de 3 exercícios em um treino.

os carboidratos devem ser evitados antes desse tipo de treino

Agora vamos ver o papel da alimentação aqui. O mesmo princípio que se aplica ao sono, se aplica aqui: qualquer insulina que circula na corrente sanguínea inibe a produção de HGH. Isso significa que ir para academia ou para a pista após uma refeição rica em carboidratos, ou ingerir alimentos ricos em carboidratos após esses treinos, reduzirá a efetividade dos eu exercício. Da mesma forma, beber um Gatorade após esses treinos será contraprodutivo: guarde suas bebidas energéticas para depois dos seus treinos de resistência.

Ir para a academia em jejum ou após comer uma refeição baseada em proteínas será a melhor opção para obter o máximo benefício dos seus treinos de alta intensidade. Você chegará em casa com HGH fluindo em suas veias.

Alguns atletas relataram que tiveram melhores noites de sono após sessões de treinamento de alta intensidade no final da tarde e á noite e quando a refeição após o exercício foi rica em proteínas e gorduras ou até mesmo quando dormiram em jejum.

Na ironguides nós programamos essas sessões nos cronogramas dos atletas e aconselhamos nossos clientes no que se refere a seções específicas de treinamento para otimizar o treinamento e a recuperação e para fornecer a melhor saúde e performance.

Alun “Woody” Woodward

terça-feira, 1 de março de 2011

DO BAILE ÀS PISTAS

Foi voltando de uma festa a pé com os amigos que o português Carlos Lopes trocou o sonho do futebol pela corrida

Por Nanna Pretto

Carlos Alberto de Souza Lopes nasceu em fevereiro de 1947, em Vildemoinhos, um pequeno vilarejo próximo à cidade de Viseu, ao norte de Portugal. De família humilde, começou a trabalhar cedo, por volta dos dez anos, para ajudar em casa. O sonho era de ser jogador de futebol no clube Lusitano de Vildemoinhos, mas a fisionomia franzina não ajudava. Nessa época Lopes não imaginava que correria atrás de recordes, e não de uma bola.

O atletismo surgiu por acaso. Em 1966, aos 19 anos, Lopes voltava de uma festa a pé com os amigos. Era tarde da noite e, por dentre a escuridão dos pinheiros, uivos e ventanias, a turma entrou em pânico. No corre-corre Lopes disparou, chegando ao vilarejo antes dos amigos. E ele disputou a informal competição com amigos vendedores de jornais, ou seja, que já tinham a mania das corridas nos pés.

Foi com esse grupo de adolescentes que nasceu a ideia de criar um núcleo de atletismo no Lusitano de Vildemoinhos. Certo dia, Lopes e os amigos saíram para um treino... de 20 km. O resultado foram três dias se arrastando e com dores em todo o corpo. Mas isso não o desanimou.

A estreia o leva ao mar

Em dezembro de 1966, Lopes estreou oficialmente na São Silvestre de Viseu. O pai, que informalmente já sabia da escolha do filho, nada comentava sobre o assunto. Naquela noite, antes da corrida, os dois jantaram como se nada tivesse acontecendo. Ao retornar para casa com a medalha de prata no peito, Lopes encontrou um pai sorridente e orgulhoso do mérito do filho.

Ainda naquele ano, Carlos Lopes foi medalha de ouro em Viseu, no campeonato distrital de cross-country e terceiro no campeonato nacional da mesma modalidade em juniores, o que valeu uma classificação na disputa do Cross das Nações, em Rabat, Marrocos. Lopes foi o melhor português, em 25° lugar. Como prêmio, aos 19 anos, era a primeira vez que o atleta luso via o mar.

A carreira no Sporting

No ano seguinte, 1967, Lopes recebeu a visita do Sporting Clube de Portugal, de Lisboa. Literalmente, o sonho batia a sua porta. Assim, ele ingressou no clube, tendo como treinador Mário Moniz Pereira. Assim começava a carreira profissional.

A ida para Lisboa, deveu-se tanto a razões desportivas, como à promessa de um melhor emprego. Veio também a primeira desilusão: o prometido emprego de torneiro mecânico não aconteceu. Depois de cumprir o serviço militar, em Lisboa, vai trabalhar como contínuo no jornal Diário Popular.

Em 1975, os melhores atletas portugueses são dispensados de parte do trabalho para treinar duas vezes por dia. E os resultados de Lopes não tardaram a aparecer.

No mundial de cross-country realizado em Chepstown (País de Gales), 1976, as instruções do técnico para aquela prova eram que o português desse o máximo de si na marcação dos adversários, não os deixando fugir. Conseguindo isso, seria grande a possibilidade de vencer, já que como sprinter, era superior a qualquer corredor.

Lopes, no entanto, não seguiu as orientações técnicas. "Quando entro numa prova não tenho instruções. Os que estão de fora não podem mandar e dizer que a determinada altura temos de fazer isto ou aquilo. Quem manda é o atleta porque é ele que sabe como se sente”, disse ele, na época, após a vitória.

No dia seguinte, o jornal francês L´Équipe publicou: "Indiferente, soberbo, atleta ligeiro com pernas de puro-sangue, Carlos Lopes parecia um cavaleiro solitário e está estampada na testa a certeza da sua superioridade."

A história olímpica

Carlos Lopes, que já tinha estado sem glória nos Jogos de Munique em 1972, era uma das maiores esperanças de Portugal para os Jogos Olímpicos de Montreal, no verão de 1976. Lopes teve, aliás, a honra de ser o porta-bandeira da equipe portuguesa durante a cerimônia de abertura das Olimpíadas.

A vitória nos 10 mil m, dava a sensação de que Lopes poderia voltar para Portugal com o ouro olímpico. A tática, segundo o técnico Pereira, era forçar até ao limite. E, das duas, uma: ou o português se arrebentava ou arrebentava os outros. Seguindo as instruções do técnico, Lopes entrou nos últimos 500 m bem adiantado do pelotão. Mas não ia só. O finlandês Lasse Viren era o único a conseguir acompanhar Lopes. Nos últimos metros, Viren atacou forte, ultrapassou Lopes e ganhou o ouro, deixando o atleta luso com o segundo lugar.

“Quando conduzo uma corrida não é para ganhar, é para não perder, porque o que tenho que fazer é afastar os outros, ir dando cabo neles. Esse é o meu espírito”, explicou o atleta após a competição.

Crise de lesões curada pela acupuntura

Após ficar com o vice-campeonato no mundial de cross-country na Alemanha, em 1976, Lopes passou por uma fase de lesões. Foram cinco anos de angústias, entre fisioterapias, abandonos de treinos e desistências de provas.

"Nesse período negro, o que mais me custou foi não poder participar nos Jogos Olímpicos de Moscou. Se não fossem as lesões, não teria boicotado as Olimpíadas. Sempre achei que política e desporto não podiam ser misturados”, disse o atleta na época.

Em 1979, algumas pessoas já apressavam a aposentadoria do atleta. “Me senti humilhado com as palavras de alguns senhores que me preparavam o funeral e me consideravam uma espécie de velho inútil" disse o atleta, então com 32 anos.

A recuperação veio através de tratamentos com acupuntura, realizado pelo mestre especialista, conhecido por Koboyashy, em portugal. “Quando ninguém dava mais nada por mim, ele me curou e me deu confiança para o futuro”.

O retorno às pistas


Em 1982, nos Bislett Games, em Oslo, Lopes reapareceu recuperado. Em uma corrida que o norte-americano Alberto Salazar assumia o ataque para quebrar o recorde europeu, Lopes transcendeu-se. Na metade da prova os atletas conseguiram dez segundos de vantagem em relação à marca histórica. Aos 8.000 m metros ocupavam as primeiras posições, Lopes, Salazar e o belga Alex Hagelsteens. Nos 200 metros finais Lopes apertou o passo, garantiu a vitória e cravou um novo recorde mundial com o tempo de 27min24s39.

O próprio Carlos Lopes ficou impressionado com o desempenho. "Não contava com o recorde europeu dos 10.000 m. Pela primeira vez na minha carreira tive um comboio até 250 metros da meta. Foi tudo simples. O atletismo não tem segredos. Quem tem força anda, quem não tem...”

Em Abril de 1983, em Roterdã, Holanda, a disputa pela vitória da maratona ficou entre Lopes, o australiano Robert de Castella e, novamente, Salazar, que detinham as melhores marcas mundiais. Aos 36 km de prova Salazar cedeu e, aos 38 Km só restava Lopes e Castella. Por dois segundos, o sprint do australiano definiu a vitória, mas foi de Lopes a marca do novo recorde europeu, com o tempo de 2h08min39s.

Do acidente ao pódio


Faltava pouco mais de uma semana para a viagem dos atletas para as Olimpíadas de Los Angeles, em 1984, quando, no decorrer de um treino, Carlos Lopes foi atropelado por um carro. Poderia ter sido o fim de um sonho: "Fui aos ares, caí e levei algum tempo para me levantar com medo de pensar que já não iria a Los Angeles. Me ergui e a primeira coisa que fiz foi tentar correr. Corri... o sonho podia continuar”, relatou o atleta após o acidente.

A disputa da maratona aconteceu sob um forte sol, no dia 12 de agosto. A alta temperatura começou a desgastar Salazar, que cedeu no quilômetro 19. Castela agüentou até o 34° km. De acordo com o Comitê Olímpico Internacional, Lopes correu os próximos 5 km em 14min33s. A quatro quilômetros da chegada, Lopes abriu um ataque rumo ao sonho. Entrou no estádio com 200 metros de vantagem, em passada firme, com o sorriso nos lábios. Os braços erguidos ao céu. Lopes conquistava para Portugal, a primeira medalha olímpica de ouro, com o tempo de 2h09min21, recorde olímpico que durou até Pequim 2008, batido pelo queniano Samuel Wanjiru, com o tempo de 2h06min32s

"Decidi não me preocupar antes dos 37 Km, a partir daí sabia que tinha de dar forte. Foi o que fiz", resumiu o atleta.

Bicampeão na São Silvestre

A vitória de Lopes na São Silvestre de 1982 foi marcada pela superação, afinal ele estava longe do favoritismo e muitas pessoas já consideravam a carreira do português, então com 35 anos, acabada no cenário internacional.

Assim como no ano anterior, o brasileiro José João da Silva saiu na frente, com o colombiano Victor Mora pressionando. No elevado Costa e Silva, a briga estava entre José João e o tanzaniano Zakaria Bary. Foi quando Lopes surgiu. Por 150 m, ele correu lado a lado com Zacaria para, finalmente, se distanciar na liderança com Mora em segundo. Forçando o ritmo, ele puxava a prova na Consolação quando sentiu uma fisgada na virilha.

Em entrevista ao jornal Gazeta Esportiva, após a competição daquele ano, Lopes relatou seu pensamento no momento da dor: “Não é uma contusão que vai me arrancar a vitória que eu espero há tantos anos.” O incentivo, no entanto, veio de um policial militar, a poucos metros da avenida Paulista. “Ele gritou ‘Não desista! Estamos quase no fim da Consolação, depois é a Paulista, uma linha reta. Vá em frente, não tem ninguém atrás de você’.”

O apoio moral fez com que a dor fosse isolada no cérebro até a chegada. “Se pudesse teria agradecido o policial naquele momento. Aquelas palavras me ajudaram”, afirmou o corredor depois da prova.

Após dois anos Lopes retornou ao Brasil, dessa vez acompanhado da mulher e dos dois filhos. Aos 37 anos, ele carregava o título de campeão olímpico da maratona e o favoritismo. Como nos anos anteriores, José João largou na frente e forçou o ritmo nos primeiros 5.000 m. Logo que Lopes percebeu o sacrifício que João fazia para manter a liderança, ele avançou rumo à primeira colocação. Naquele ano, a atleta portuguesa Rosa mota também pegou o pódio na categoria feminina.

A festa da comemoração do campeão foi familiar: um jantar com direito a vinho, bacalhau e frutos do mar. A comemoração durou até as quatro horas em um dos restaurantes típicos mais tradicionais da cidade.

Fonte: Arquivo Gazeta Esportiva

Ficha técnica

Nome: Carlos Alberto Sousa Lopes

Nascimento: 18 de fevereiro de 1947

Cidade natal: Viseu (Portugal)

Nacionalidade: Portuguesa

Esporte: Atletismo

Medalhas em Olimpíadas

Montreal, 1976 – Prata nos 10.000 m, com 27min45s17

Los Angeles, 1984 – Ouro na maratona, com 2h09min21 (recorde mundial)


Outros feitos da lenda


Campeonatos mundiais de Cross Country (3 medalhas de ouro em 1976, 1984 e 1985) e 2 medalhas de prata (em 1977 e 1983)

800 m: 1min56s5, em Barreiro, agosto de 1970

1.500 m: 3min41s4, em Lisboa, julho de 1982

3.000 m: 7min48s8, no Estádio Nacional, maio de 1976

5.000 m: 13min16s38, em Oslo, agosto de 1984

10.000 m: 27min17s48, Estocolmo, julho de 1984

20.000 m, 59min44s2, em Lisboa, agosto de 1975

Bateu o recorde pessoal nove vezes consecutivas.

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

MARILSON VENCE E BATE RECORDE DA MEIA DE SÃO PAULO

Em treinamento para a Maratona de Londres, melhor fundista brasileiro não teve dificuldades para ficar com a vitória, apesar do calor intenso na capital paulista
Foto: Sérgio Shibuya/ZDL
 Na manhã deste domingo, dia 27 de fevereiro, cerca de 11.500 corredores saíram às ruas para a disputa de mais uma edição da Meia-maratona de São Paulo. Com largada às 8h, em frente ao Estádio do Pacaembu, a prova na capital paulista contou com percursos de 6 km e de 21 km.

Marilson Gomes dos Santos confirmou o favoritismo e venceu a corrida principal, com o tempo de 1h03min12s.O brasiliense, bicampeão da Maratona de Nova York e vencedor da São Silvestre em 2010, quebrou ainda o recorde da prova, que pertencia ao queniano Kiprono Mutai, com 1h04min02s. Paulo Roberto Almeida Paula (1h04min58s) e Damião Ancelmo de Souza (1h05min27s) completaram o pódio.


Entre as mulheres, a queniana Agnes Jepkosgei Cheserek ficou com a primeira colocação, com 1h16min21s. A brasileira Adriana Aparecida da Silva ficou com a segunda posição, com 1h16min30, seguida pela tanzaniana Zerfe Worku Sakilu, com1h17min15s.

domingo, 27 de fevereiro de 2011

VOLUME OU VELOCIDADE?

Saiba em que focar seus treinamentos iniciais para atingir seus objetivos e bons resultados na corrida
Por Fernanda Silva

Muitas vezes os corredores iniciantes não sabem como poderão conquistar velocidade numa determinada distância, tendo um bom tempo final na corrida. Mas vontade não falta para que isso aconteça. Porém, não basta só isso, é preciso começar seus treinamentos focando no volume, ou seja, correr o maior tempo possível em uma velocidade não tão exagerada. Dessa maneira, o corpo vai ganhando resistência para passar para a próxima fase: aumentar a velocidade.

Então, surge a dúvida na cabeça de muitos atletas "como eu vou fazer isso?". É preciso ter disciplina e metas para atingir os objetivos. "Deve-se começar com mais ou menos três meses de caminhada e trotes inicias, dependo das condições do corredor, aumentando gradativamente o tempo de treino, para poder preparar bem o corpo e depois pensar em aumentar a distância e diminuir o tempo da corrida", explica Sandro Marcondes, diretor técnico da assessoria esportiva que leva seu nome.


Devagar e sempre

O trabalho na corrida é de médio a longo prazo, portanto precisa-se focar bastante nos treinamentos iniciais, que logo aparecerão os resultados. Mas nada é de um dia para o outro. Começar a correr, gera uma ansiedade em ser rápido, competir longas distâncias em pequenos tempos e ver os efeitos no seu corpo. Entretanto, como em todos os esportes, na corrida também existem etapas. Depois de trabalhar o volume de treino, pode-se começar a acelerar.

"Passada essa preparação, aumentar a velocidade tem que ser de acordo com as condições físicas do corredor. O treinador precisa encaixar no treino semanal a necessidade de aumentar a distância e ir diminuindo o tempo, para isso os treinamentos de fartlek e treinos intervalados ajudam muito nessa fase", revela Marcondes, que completa. "O treinador deve conter a euforia do corredor, não precisa ter pressa, mas sim muito treino", finaliza.

Pegue leve

Os iniciantes devem tomar muito cuidado com o desgaste excessivo nos treinos. O esforço físico demasiado pode fazer o corredor desanimar ou não atingir uma boa velocidade. Para acelerar, o atleta precisa de resistência, e isso é resultado de treinamentos bem feitos. "O corredor deve estar atento a ansiedade que as metas geram. Os amigos que já correm mais rápido e o número de provas que aumentam a cada dia, colaboram com a vontade de competir e diminuir tempos, mas às vezes ele ainda não está preparado para isso e pode gerar um esgotamento físico, causando lesões", explica o treinador.

O esforço para aumentar a velocidade deve ser confortável. O atleta após semanas fazendo treinos intervalados, focando volume, vai ganhando resistência. Quando o corpo já começa a "se acostumar", é necessário aumentar o ritmo, controlando a frequência cardíaca e os tempos atingidos. "O treinador deve ficar atento (e o corredor também) com o pós-treino e com o cansaço, saber se sentiu muita sede, dores durante as passadas, se a temperatura atrapalhou e se teve um desgaste muito grande no ganho de força e velocidade, pois podem ser indícios de que há algo errado" finaliza.